domingo, 12 de abril de 2009

Para antecipar um pouco a pauta da Palestra que realizará com o escritor Romulo Avelar, a Harmônica foi conversar com o profissional. Confira alguns trechos da entrevista e veja como você não pode perder esta palestra.

1- O que levou você a escrever o livro "O Avesso da Cena"?

RA-Eu estudei na primeira escola de produção cultural criada no país, em 1990, pelas Faculdades Cândido Mendes (atual Universidade Cândido Mendes) e pela Fundição Progresso, no Rio de Janeiro. Naquela época, já era evidente a carência de registros de experiências nesse campo. Desde então, muitos foram os títulos publicados sobre temas como política cultural, economia da cultura, leis de incentivo, marketing e patrocínio cultural. Entretanto, foram poucas as publicações sobre as práticas da produção e da gestão cultural. Daí o impulso de registrar minhas pesquisas e experiências profissionais. Busquei colocar no papel um conhecimento presente na cabeça de produtores e gestores culturais, mas sobre o qual ainda havia pouco ordenamento.
Tive como meta proporcionar aos alunos dos inúmeros cursos da área que vão surgindo pelo Brasil alguma familiaridade com o contexto da cultura, numa perspectiva diferenciada daquela que tem o espectador comum. No livro, falo sobre o avesso da cena, no intuito de oferecer aos leigos os pontos de vista daqueles que concebem e realizam projetos culturais.


2- A profissão do gestor cultural ainda não é consolidada no mercado brasileiro. Em sua opinião, quais as dificuldades mais enfrentadas para que o setor amadureça e seja reconhecido?

RA-Penso que o reconhecimento da profissão de gestor cultural depende fundamentalmente de dois grandes esforços. O primeiro diz respeito à própria formação daqueles que se lançam nesse campo. Percebo que sua atuação ainda se dá de forma bastante intuitiva.

No livro “O Avesso da Cena”, apresento uma listagem de cursos existentes na área em alguns estados brasileiros. A cada dia, cresce o número de cursos livres, de graduação e de pós-graduação voltados para a formação e o aperfeiçoamento de produtores e gestores. Entretanto, esse movimento ainda é tímido, se levarmos em conta as dimensões continentais do país. A questão da formação desses profissionais, cada vez mais imprescindíveis para a gestão de grupos, entidades e projetos culturais, precisa se tornar política pública no Brasil, nas esferas federal, estadual e municipal.

Outro fator limitador para a afirmação da profissão é a desarticulação existente no setor cultural. Embora nos últimos tempos tenhamos registrado a criação de diversas entidades representativas de produtores e gestores, bem como de redes e sites especializados, ainda persiste certa desmobilização na área. Muito há que se avançar no sentido da aproximação dos profissionais e da discussão de agendas comuns, visando a uma atuação política responsável junto ao Poder Público e à sociedade.


3 - Na sua opinião, qual a perspectiva para o setor de cultura no Brasil?

RA-O setor cultural brasileiro encontra-se em processo de franca expansão. Nos últimos anos, vivemos um movimento de ampliação da infra-estrutura e de multiplicação das oportunidades no setor. Toda a cadeia produtiva da cultura vem se fortalecendo, com a incorporação de um número expressivo de profissionais, empresas, instituições e fornecedores. A cultura ganha nova dimensão, inclusive do ponto de vista econômico.

As duas últimas décadas foram de grandes transformações no cenário cultural brasileiro. Até meados dos anos 1980, a produção e a gestão em níveis profissionais se concentravam, de forma acentuada, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Os outros estados assistiam a tudo pela mídia ou eram receptores passivos daquilo que circulava pelo país. De lá para cá, entretanto, muita coisa mudou. Em todas as regiões, começaram a florescer iniciativas de valorização dos traços locais e de mobilização das comunidades pela preservação de seus saberes e fazeres. A cultura passou a gerar postos de trabalho num ritmo cada vez mais acelerado.

Agora estamos diante de uma crise financeira mundial e a área cultural vem sofrendo impactos negativos decorrentes do recolhimento das empresas. Infelizmente, o modelo de financiamento à cultura estabelecido no Brasil a coloca numa posição de excessiva dependência dos humores da iniciativa privada.

No entanto, prefiro encarar as atuais turbulências como algo passageiro. O ritmo acentuado de crescimento da produção cultural brasileira na última década me faz crer que, passados os primeiros ventos da crise, retomaremos uma curva ascendente. Penso que esse movimento de expansão é uma tendência irreversível, bem mais forte do que qualquer crise. Vejo um futuro promissor para o setor cultural brasileiro, mesmo que, num próximo momento, possamos experimentar alguma estagnação.


5- Que dicas que estão no livro "O Avesso da Cena" que você daria para os leitores da Harmônica?

Um aspecto central do livro “O Avesso da Cena” é a aplicação às rotinas e à realidade dos grupos, empresas e instituições culturais de conceitos e técnicas de outras disciplinas, como a administração, a comunicação, o marketing e o direito. Penso que o segmento cultural precisa se apropriar de algumas ferramentas de trabalho usuais nessas áreas, como o planejamento, a logística, a gestão da qualidade e o marketing de relacionamento. É certo que tais ferramentas vêm sendo empregadas com alguma frequência no setor, mas muitas vezes de maneira intuitiva e nem sempre eficaz. O êxito nas ações empreendidas no nosso universo depende, cada vez mais, não apenas da qualidade dos atributos artísticos, técnicos e culturais, mas também da capacidade das equipes de gerir de maneira profissional os recursos humanos, materiais e financeiros envolvidos.

sábado, 11 de abril de 2009

Hârmonica realiza palestra com Romulo Aguiar

A HARMONICA ARTE E ENTRETENIMENTO realizará, em parceria com a Gesto e com o CEART, uma palestra com Romulo Avelar, autor do livro "O AVESSO da CENA", no próximo dia 27 de Abril, às 18h, no Centro de Artes da Udesc.


O público que vê um espetáculo no palco não imagina a infinidade de providências que precisam ser tomadas nos bastidores, antes, durante e depois daquele breve período em que o artista está em cena. Aos olhares leigos, a impressão é de que tudo acontece num passe de mágica, de modo quase espontâneo e sem maiores esforços. Entretanto, essa visão romântica se dissipa instantaneamente quando se mergulha no universo das coxias. Ali, a vida real se faz presente com a mesma intensidade de qualquer outro campo profissional. Uma legião de anônimos trabalha arduamente para que tudo esteja pronto e perfeito no momento da abertura das portas ao público.

O Avesso da Cena coloca em foco o emaranhado técnico, administrativo, financeiro e político que dá suporte à cena cultural brasileira. Um mundo distante das luzes dos refletores, mas cuja compreensão se revela cada vez mais determinante para a profissionalização num setor que se expande em velocidade acelerada.

O livro é destinado àqueles que desejam se familiarizar com o contexto da produção e da gestão cultural e com a dinâmica dos empreendimentos da área. Sua leitura é recomendável aos estudantes dos cursos de produção e gestão cultural, aos artistas e produtores, aos gestores de instituições culturais públicas e privadas e de organizações sem fins lucrativos, bem como aos alunos e profissionais de campos como artes, administração, marketing e comunicação.


Romulo Avelar
Administrador formado pelas Faculdades Promove de Belo Horizonte. Produtor e gestor cultural, responsável pela produção e direção de diversos espetáculos musicais. Estudou na Ecoar, a primeira escola de produção cultural criada no país, em 1990, no Rio de Janeiro. Atuou em empresas como Fiat, MBR e Teatro Alterosa, e na área pública, como superintendente de cultura de Contagem – MG, diretor de promoção da Fundação Clóvis Salgado – Palácio das Artes, de Belo Horizonte, assessor especial da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais e presidente da Comissão Técnica de Análise de Projetos da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Desde 1998, tem ministrado cursos nas áreas de produção, gestão, planejamento e marketing cultural, em várias cidades brasileiras. Atualmente, trabalha como assessor de planejamento do Grupo Galpão e do Grupo do Beco.

O livro “O Avesso da Cena – notas sobre produção e gestão cultural” foi editado pelo selo Duo Editorial e realizado com recursos do Fundo Municipal de Cultura de Belo Horizonte.



Realização: Harmônica Arte e Entretenimento
Apoio: GESTO – Associação dos produtores teatrais de Florianópolis e Centro de Artes da Udesc.

Informações: 48 32093818