terça-feira, 11 de agosto de 2009

A Arte interessa??

Texto do jornalista Maicon Tenfen – Jornal de Santa Catarina
Na semana passada muita gente não entendeu porque fiquei tão “indignado” com a ausência do Festival Universitário de Teatro de Blumenau em 2009. Acho que a dúvida é válida, embora assinale um galopante descaso pela vida cultural da cidade, e acho que explicações de minha parte também são válidas para refletirmos sobre os possíveis significados da arte num contexto social.
Vamos formular o problema com uma pergunda objetiva: por que o cancelamento do festival de teatro deste ano é tão grave na realidade vivida em Blumenau? Poderíamos argumentar a partir de duas esferas distintas. A primeira é a POLÍTICA. O que aconteceria, por exemplo, se alguém tentasse cancelar o Festival de Dança de Joiville????
Até por causa da tradição que trazem em seu rastro, festivais dessa natureza estão firmemente relacionados à representatividade do município frente ao Estado, ao país e ás vezes, ao mundo.
Isto diz respeito tanto à disponibilidade de verbas quanto à importância que recebemos e nos damos enquanto povo. Se um festival artístico de 22 anos é cancelado e poucos abrem a boca para reclamar, então temos um sinal tonitruante de decadência.
Há bairrismo para defender e exaltar quase tudo o que existe na cidade, menos cultura, menos arte, menos imaginação. Esse silêncio do empresariado, das instituições e de boa parte dos intelectuais é uma espécie de suicídio coletivo, o que nos leva à segunda esfera de argumentação, a FILOSOFIA. Muitos pensadores do século 19, com destaque para Arthur Shopenhauer (1788-1860), gestaram uma visão bastante negativa da vida e da sociedade. Segundo eles “viver é sofrer” porque somos escravos do desejo.
Passamos pela vida correndo atrás de objetivos inatingíveis, principalmente de cunho material, e nos frustramos cada vez que nos deparamos com nossa pequenez.
Mesmo quando atingimos uma conquista, a euforia é apenas momentânea. Logo nos vemos na obrigação de atingir sonhos maiores e novamente nos deixamos algemar pelo desejo. Qual a saída desse círculo vicioso de fracassos??? A ARTE. O fazer/e ou a contemplação artística.
Inclusive, Shopenhauer dá a dica textualmente.
Numa cidade materialista e industrial como a nossa cada, recuo em termos de cultura esvazia as nossas vidas de significado. Não pensem que exagero. Menos cultura não acarreta apenas mais burrice, mas também mais tristeza, mas angústia, mais fluoxetina, talvez mais suicídios...

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Um comentário:

  1. Parabéns Maicon.
    Texto maravilhoso e concordo plenamente.
    Em Floripa, acontece o Floripa Teatro, o Festival Isnard Azevedo, que tentaram mudar o nome por questões políticas (olha a burrice aí), mas enfim está acontecendo. E ontem,caminhando pelo parque de coqueiros onde está uma das tendas do evento, deu um prazer imenso em ver o público lotando o local e a felicidade estampada na cara das pessoas quando sairam do espetáculo. É incompreensível como tem governante que não enxerga o bem que a arte nos faz.
    É o extremo da burrice!

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