segunda-feira, 30 de maio de 2011

Leitura Dramática e a tradução de Rafael Raffaeli



Rafael Raffaelli, como parte de seu pós-doutorado em Teatro da UDESC, lança no dia 31 de maio, às 18h30, o livro Do jeito que você gosta, tradução da obra teatral As You Like It redigida por William Shakespeare em 1599. O evento também conta com uma palestra e uma leitura dramática, conduzida pela Traço Cia. de Teatro, de trechos selecionados da tradução.

A palestra, ministrada por Rafael, versará sobre as dificuldades inerentes à tradução de uma obra teatral do período elisabetano e as opções que cada tradutor deve assumir para desenvolver o seu trabalho. Serão tratadas também algumas das possíveis interpretações do conteúdo da peça, envolvendo questões históricas, sociais, psicológicas, ecológicas e relacionadas ao gênero.

O evento faz parte das atuais atividades de pesquisa do tradutor, orientado pelo prof. dr. Edelcio Mostaço, e conta com o apoio do Programa de Pós-Graduação em Teatro do Centro de Artes da UDESC. O livro está sendo lançado pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina.

Sobre o tradutor
Rafael Raffaelli realiza estágio pós-doutoral no Programa de Pós-Graduação em Teatro da UDESC, é professor titular da UFSC e docente dos cursos de graduação em Cinema, Artes Cênicas e Psicologia. É também membro do corpo permanente do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC. Editou os periódicos Interthesis e Cadernos de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas, ambos vinculados ao PPGICH/UFSC. Publicou os livros Psicanálise e Casamento e Ensaios Sobre Cinema e Pintura, além de numerosos artigos em periódicos científicos. Traduziu Macbeth de William Shakespeare, obra publicada online.


Serviço:
Leitura dramática, palestra e lançamento do livro Do jeito que você gosta (As You Like It), traduzido por Rafael Raffaelli
Quando: 31/05, às 18h30
Onde: Espaço 1  Bloco Amarelo do CEART/UDESC (Av. Madre Benvenuta, 2007 ? Itacorubi)
Entrada Franca

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Ronda Grupo - Por Zilá Muniz


Como é bom sair de casa...
Outro dia ouvi de alguém:
- Só sei começar quando termina
Como diretora do Ronda Grupo, foi assim que me senti ao retornar para casa no dia 1 de maio após 18 dias viajando, apresentando Socorro*, compartilhando os processos de trabalho do grupo, tanto nas conversas como nas oficinas práticas e vivendo junto com o Egon, a Karina, a Paula, o Vicente, o Heitor e a Florzinha a experiência de construção de mais um pedacinho da história do Ronda.
A viagem nos proporcionou vários momentos muito ricos, tanto na experiência pessoal como no contexto de trabalho artístico do grupo e que nos forneceu um retorno significativo. Alguns destes momentos aconteceram durante as conversas com o público logo após as apresentações e foi gratificante poder ouvir sobre como Socorro chega às pessoas.
 Inspirada por estas conversas e pelos depoimentos do publico em relação ao espetáculo e ao trabalho de corpo dos intérpretes, faço esta pequena reflexão para compartilhar algumas das questões que surgiram. Refletir e discorrer sobre o processo de criação de Socorro despertou a consciência sobre esta potencia de vitalidade que é criar. Vitalidade que nos deixa atentos, vivos a tudo que nos rodeia, nada fica de fora, tudo pode virar material de criação.
Em primeiro lugar, pensar e contar um pouquinho do processo de criação e seus procedimentos para responder às perguntas nos remeteu ao processo de montagem, lá em 2007/2008 quando depois de muito experimentar e pesquisar foi se definindo cada cena, cada sequencia e cada jogo. Portanto, este processo no fez refletir sobre nossas escolhas e até a nos confrontar com estas mesmas escolhas. Por vezes, reforça a intenção que trabalhamos desde o início, no sentido mais abrangente, de produzir cenicamente acontecimentos lúdicos em que a afetividade seja liberada. Noutras, de despertar um olhar sobre o que fazemos, ou como o fazemos.
Algumas destas questões interessam discutir aqui, a exemplo da maneira como trabalhamos com  “contraste” e também a apropriação da logica do sonho como fator determinante para a temporalidade ali apresentada. Socorro não trabalha com a narrativa linear, e sim com uma estrutura fragmentada, não existe o principio, o meio e o fim como tradicionalmente conhecemos. As cenas se entrelaçam, se complementam, o tempo que ali se instala é o tempo do sonho, onde não se reconhece um começo ou um fim, só se percebe que algo acontece quando já esta acontecendo. Neste sentido propomos uma temporalidade própria do acontecimento, alguns momentos isto causa ruídos de inquietação na plateia, de tal modo a afetar o espectador não só mentalmente como também corporalmente.
O acontecimento deixa explícito a processualidade que lhe é própria, assim a poesia cênica conduz o principio progressivo de encadeamento das cenas que tramam com o texto sentidos para cada momento, para cada estímulo, para cada jogo ou ainda para cada corpo. Quando pensamos em corpo, devemos também incluir o corpo do espectador que reponde as questões primeiras da criação de Socorro. O corpo boneco, o corpo humano, o corpo intérprete o corpo espectador, o corpo instrução, provocação. Socorro nos apresenta estados energéticos de estar no mundo, de interrogar esta estada no mundo ainda que de forma sutil e delicada. Esta maneira poética e lúdica de tratar temas que doem no corpo, na carne, é o desafio do grupo.  
 
Durante as conversas ouvimos espectadores ávidos para procurar o sentido nas emoções e sentimentos que Socorro fez aflorar, buscando confirmação  para suas inquietações. Nas relações criadas entre cada espectador para o que ali se apresentou, podemos encontrar pontos em comum e de maneira geral fica um silencio um momento de suspensão do tempo real, criando um tempo do olhar. Um tempo de-vagar pela cena. O espectador sente que faz parte das metáforas que ali se apresentam e se identifica ora com o boneco, ora com o humano.
Também aparece de forma clara a compreensão de que nenhum dos elementos que fazem parte da cena intervém como centro da articulação, senão que a composição se sustenta para ilustrar o olhar sobre o humano. Portanto a presença de um elemento reclama, exige a presença do outro.  O recurso associativo imprime no olhar do espectador a compreensão sobre o todo, é na justaposição das camadas metafóricas que o contraste entre os elementos elegidos serve para dilatar os sentidos.
Por fim, outra questão que surgiu com frequência é quanto ao vocabulário e gramática de movimentos que se apresenta em Socorro. Fica evidente certa curiosidade do espectador quanto à origem da movimentação e uma estranheza por se diferenciar de uma concepção de dança mais tradicional, por serem movimentos não usuais. Na concepção de Socorro e no processo de criação e seleção do repertório de movimentos originados de improvisações, sempre estruturadas por estímulos, existe um trabalho meticuloso de escolha, de manipulação e de articulação deste material.   O que podemos definir, após quatro montagens (Movimento para 6 - 2006, Socorro - 2008, Cuida de mim e Lugar nenhum – 2010), como um procedimento do grupo, uma forma de trabalhar que faz parte de nossos processos de criação e consequentemente como uma estética própria que começa a se configurar.  Pode se dizer que é o que nos define.

*O projeto Socorro circulação, contemplado pelo Prêmio Funarte de Dança Klaus Vianna 2010, propôs apresentações do espetáculo de dança Socorro na região centro-oeste do país – Cuiabá/MT, Gama/DF, Goiânia/GO e Campo Grande/MS.
O Ronda Grupo promoveu neste período de circulação intercâmbios com bailarinos, dançarinos, companhias, academias de dança, estudantes das Artes Cênicas e demais interessados. Em cada uma das cidades, após a primeira apresentação, também aconteceu uma conversa para a troca de informações sobre o processo de criação do trabalho, os meios de pesquisa utilizados e o encontro entre a dança e o teatro de formas animadas, oferecendo caminhos para possíveis pesquisas na área.
A oficina “Improvisação e Criação em Dança”, com 03 horas de duração, também foi oferecida gratuitamente em cada cidade. Conceitos como dramaturgia, fluxo, espaço entre, foram abordados e vivenciados por meio de exercícios de improvisação, no trabalho para desenvolver um corpo alerta e inteligente.


segunda-feira, 16 de maio de 2011

*(A)Gentes do Riso levam palhaçaria para os hospitais*





Transformar o ambiente hospitalar por meio de doses de alegria e diversão.
Este é o objetivo do projeto (A)Gentes do Riso, da Traço Cia de Teatro, que inicia sua atividade nesta segunda-feira, 16, em Florianópolis. O projeto, que será realizado nos meses de Maio e Junho, prevê intervenções cênicas no Hospital Infantil Joana de Gusmão e em hospitais atendidos pela Unimed. Os palhaços intervirão na rotina hospitalar proporcionando benefícios ao tratamento médico, por meio do riso e da poesia.
Ao todo, 10 palhaços doutores compõem a trupe dos (A)Gentes do Riso. O grupo teve a orientação artística de Esio Magalhães, que já trabalhou com um dos grupos precursores  na utilização da técnica do clown em ambientes hospitalares no Brasil. “Quando o palhaço vai para o hospital, tem que estar preparado para apresentar e se lançar na relação com toda disponibilidade para potencializar o momento que ele o seu público estão vivenciando”, destaca.

*Sobre a Traço Cia. de Teatro*

A Traço Cia. de Teatro foi fundada no ano de 2001. Em sua trajetória artística, a técnica do palhaço configura-se como principal recurso pedagógico de formação, treinamento e criação. Junto a esta técnica, investigações sobre o teatro de rua e o teatro cômico popular colaboram à pesquisa cênica da companhia. Elas instrumentalizam seus artistas para a criação de um repertório pessoal, preparando-os para uma relação livre, direta e potencialmente transformadora para com o público. O projeto (A) Gente do Riso tem o patrocínio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes e Prefeitura Municipal de Florianópolis; Apoio Cultural da Unimed Grande Florianópolis; Apoio do Hospital Infantil Joana de Gusmão, Departamento Artístico Cultural DAC, Secretaria de Cultura e Arte Secarte, Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Centro de Artes - CEART, Universidade Estadual de Santa Catarina UDESC e Lagoa Iate Clube - LIC; Produção: Harmônica Arte e Entretenimento e Realização Traço Cia. de Teatro.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Entrevistando Ana Carla Fonseca Reis


 A breve entrevista foi realizada para uma atividade do curso de Pós Graduação em Gestão Cultural EAD SENAC.

Ana Carla Fonseca Reis é Administradora Pública pela FGV/SP e Economista pela USP, onde se diplomou também Mestre em Administração. Cursou MBA pela Fundação Dom Cabral e trabalhou por quinze anos liderando projetos regionais e globais em marketing e comunicações de multinacionais, baseada na América Latina, em Londres e Milão. Conferencista internacional em marketing cultural, economia da cultura, economia criativa e cultura & desenvolvimento, é co-autora de Teorias de Gestão – de Taylor a nossos dias (Thomson, 1997) e autora do celebrado Marketing Cultural e Financiamento da Cultura (Thomson, 2002) e de Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável – o Caleidoscópio da cultura (Manole, 2006), primeira obra brasileira sobre o tema e que traz uma abordagem de desenvolvimento à economia da cultura. Este livro foi agraciado com o Prêmio Jabuti 2007. Ana Carla é Diretora voluntária de Economia da Cultura do Instituto Pensarte, articulista do boletim eletrônico “Cultura e Mercado”, Consultora Especial da ONU em Economia Criativa (UNCTAD e SSC-SU/PNUD), coordenadora do curso de Gestão de Produtos e Políticas Culturais da Faculdade São Luís, professora da Fundação Getulio Vargas/SP, da Universidade Candido Mendes/RJ e da Unisinos/RS, membro do painel curador da conferência Creative Clusters do Reino Unido e curadora de diversos seminários internacionais no Brasil.
No início desta semana defendeu seu Doutorado em Arquitetura e Urbanismo, desenvolvendo uma tese pioneira sobre “Cidades Criativas”.


1) Quais os caminhos que te levaram a trabalhar com Políticas Culturais?
Ana Carla: Em termos de formação, sempre fiz todos os cursos ligados a arte e cultura, em paralelo a meus estudos em economia e administração e à minha atuação como gestora de multinacionais. O fato de ter viajado muito e morado alguns anos fora também contribuiu para que eu começasse a escrever a respeito. Esse caminho sinuoso desembocou na percepção de que um olhar complementar unindo economia e cultura seria fundamental para entender as políticas culturais como eixo de uma política de desenvolvimento. 


2) Qual a importância da profissionalização de figuras como produtor e gestor cultural?
Ana Carla: Fundamental para que a cultura seja entendida como setor econômico ativo e não como sorvedouro de recursos (em outras palavras, para que seja entendida como investimento, não como despesa).


3) Ana, vc acabou de defender tua tese de doutorado, pioneira no tema de cidades criativas, gostaria de saber de que maneira tu achas que cidades podem transformar a cultura em algo economicamente sustentável?
Ana Carla: Em um mundo crescentemente globalizado, com fluxos crescentes de turistas e no qual os serviços e produtos são cada vez mais padronizados, a cultura é reconhecida por dar às cidades o seu diferencial. Em suma, cultura é o que faz a cidade ser diferente das outras. Ela contribui, além disso, com impacto econômico e com a formação de um ambiente mais criativo, de integração e é um fator de mobilidade no espaço urbano.


4) A gestão de Ana de Hollanda como ministra da cultura tem sido foco de várias polêmicas desde que ela assumiu o mandato. Como você analisa esta situação?
Ana Carla: Acho que uma primeira grande consecução foi a criação de uma Secretaria de Economia Criativa, pioneira no Brasil. E entendo que não estejam dando à Ministra tempo suficiente para que mostre o que é capaz de fazer. 


5) Qual a tua visão sobre as políticas culturais no Brasil? E sobre o Mercado Cultural?
Ana Carla: Acho que o mercado cultural tem encontrado caminhos próprios e alternativos, na ausência de políticas que o fomentem. Temos carências enormes de uma política cultural mais abrangente e integrada, que contemple com o devido cuidado a criação, a produção, a circulação e o consumo ou usufruto da cultura. Sendo uma otimista incurável, entendo que esse quadro esteja em evolução - mas há muito caminho a percorrer.